segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Gata em Teto de Zinco Quente!




Há muitos e muitos anos atrás, assisti a obra prima do dramaturgo americano Tennessee Williams, Gata em Teto de Zinco Quente em sua versão cinematográfica com Paul Newman e Elizabeth Taylor. Um clássico imperdível.

Agora fui rever a obra em sua versão teatral no CCBB aqui em Belo Horizonte. Um resgate deste brilhante texto de Tennessee e que continua atualíssimo.
Em uma visão psicanalítica podemos dizer que "a verdade cura".
Evidentemente, ao falar em verdade, referimos-nos à verdade subjectiva, a única que se conhece, em psicanálise.
Uma (psic)análise não é mais que o confronto do sujeito com a verdade. Aceitar a sua verdade, em pleno, tolerar a brutalidade da mesma, suportar a dor que lhe subjaz, eis a primeira premissa da cura analítica. Doravante, através do complexo trabalho baseado na relação transferencial, a verdade subjetiva abre-se à transformação e muda. Contrariamente à verdade objectiva, a subjetiva muda, transforma-se, permitindo que o sujeito refaça percursos, trilhe novos caminhos, escapando, assim, à tremenda força da compulsão à repetição.
Em Gata em Telhado de Zinco Quente, uma vez mais, Tennessee Williams sublinha o peso e importância capital da verdade na vida psíquica do indivíduo.
A verdade de Brick, quando emerge, tornando-se consciente, transforma o curso da personagem. O sintoma desaparece.
Na gênese da problemática de Brick está a complexa relação / identificação com o paterno.
Brick é um homem castrado, simbolicamente: sem trabalho, sem pujança e sem desejo. A sua virilidade é trôpega, senão coxa, amparada por uma muleta. O calcanhar fraturado – e a sua dependência do álcool - constituem a prova insofismável de uma masculinidade tosca e mal-arrumada.
No filme, tal como na peça, a resolução da conflitualidade constitutiva do sofrimento de Brick implica um revisitar das profundezas: o ajuste de contas com o pai dá-se nos confins de uma funda e imensa cova, cravejada de memórias familiares.
Brick, pela primeira vez na vida, ousa enfrentar o pai, assumindo a sua ambivalência: reivindica o seu amor, enquanto expressa de modo brutal a sua raiva e ódio. O pai autocrata e onipotente, preso a um narcisismo frágil, revela então o seu imenso amor pelo filho predileto.
A magnífica ousadia de Brick – prova da internalização e afirmação do "phallus" – põe termo a uma lógica de submissão e passividade.
Aliás, o fantasma homossexual que paira sobre a personagem  decorre de uma identidade masculina frágil, secundária a uma quase impossível identificação com o pai viril. Como disse, o abandono do masoquismo submisso e passivo, motivado pela afirmação e ousadia fálicas, ditam a mudança.
Gata em Telhado de Zinco Quente é uma obra singularíssima, pela vitalidade psíquica que a mobiliza e norteia e pelo inusitado sentido dramático que comporta.
E quem pensa que a natureza humana é pacífica e serena, ou é ignorante, desconhecendo o poder construtivo do conflito, ou nunca leu Tennessee Williams. 
Para ler e rever - a peça e o filme - a cada cinco anos, dos trinta em diante.
A verdade cura. Sem sombra de dúvida, um dos mais belos e violentos dramas retratado na tela e porventura, o mais teatral.

"A verdade cura". Sem sombra de dúvida...


No Teatro: A montagem do paulista Grupo TAPA de “Gata em telhado de zinco quente”é a mais nova versão desse clássico no Brasil. Escrita em 1955, retrata o jovem casal Maggie e Brick. Por não ter filhos, eles sofriam a comparação com o irmão dele na disputa sobre quem ficaria com a herança da família. No original, porém, há muito mais do que isso. Entre seus temas, está a capacidade de cada um de conviver com os próprios segredos e com os dos outros por muito tempo. O diretor Eduardo Tolentino de Araújo dirige Zécarlos Machado, André Garolli, Fernanda Viacava e Noemi Marinho.
A expressão “gata em teto de zinco quente” faz parte do vocabulário do sul dos Estados Unidos, tendo sido usada desde o início do século XIX para descrever a habilidade em se manter estável em situações de conflito. Na peça “Cat on a hot tin roof”, a imagem de um gato deitado no telhado de metal sob o sol escaldante, em que se pergunta sobre até quando ele aguentará o calor, abre o panorama geral onde se encontram os personagens.
Na estória original de Tennessee Williams, em uma grande fazenda de algodão no Mississipi, uma família está reunida para comemorar o aniversário do patriarca. Os irmãos Brick, com sua esposa Maggie, e Gooper, com sua esposa Mae e seus cinco filhos, acabaram de almoçar com sua Mãe e o homenageado. A peça, que nessa versão (como no texto) acontece toda dentro do quarto de Brick e de Maggie, começa quando ela entra para trocar o vestido recém sujo por um dos filhos de Gooper. Ela relata ao marido o que aconteceu na mesa: seus cunhados fizeram de tudo para agradar o sogro Paizão (Big Daddy), esse que visivelmente, segundo Maggie, gosta mais de Brick, seu primogênito, apesar desse não ter filhos.
Toda a narrativa se passa na metade de um dia de maneira que o tempo da estória e o de sua representação são os mesmos. Mas, aos poucos, vão ficando claros alguns antecedentes dramáticos. No passado, Brick fez algum sucesso como jogador de futebol, mas seguiu carreira como comentarista esportivo. Na madrugada anterior, de acordo com jornais do dia, ele quebrou o tornozelo quando tentava saltar na quadra da escola, expondo a público sua debilidade física. Essa se deve sobretudo à prática do alcoolismo, iniciada imediatamente depois da morte de seu fiel parceiro Skipper, que é quando também Brick e Maggie começaram a dormir separados e nunca mais tiveram qualquer relação sexual.
Assim, embora o título, principalmente em português, privilegie a personagem Maggie, é em Brick que toda a história de “Cat on a hot tin roof” acontece. Seu isolamento impõe a todos os demais personagens, a começar pelo de sua esposa, uma recondução de seus caminhos. Os fatos dele não ter tido filhos, de ter melhor se dedicado a uma (agora abandonada) carreira nos esportes e de ser alcoólatra dão a Gooper e sua família esperanças quanto à herança do Paizão, cuja morte por câncer pode acontecer em breve. Por seu turno, Paizão, aparentemente rejuvenescido no dia de seu aniversário, exige explicações sobre a saúde de seu filho preferido. Qual a verdadeira relação entre a morte de Skipper, o alcoolismo de Brick e a infertilidade do casal?
A direção de Eduardo Tolentino de Araújo, articula bem este texto majestoso. Nessa dramaturgia, Tennessee Williams disfarça, nos diálogos, os referentes necessários para se compreender a situação a partir de sua complexidade. Desse modo, na medida em que eles vão sendo menos requisitados, o ritmo naturalmente melhora até que o clima vai ficando devastador. É como se um sol vagarosamente fosse aquecendo o telhado até o ponto em que mesmo uma tempestade não conseguisse esfriá-lo, mas talvez o deixasse ainda mais insuportável. Fazendo com que os atores explorem as palavras e as imagens do texto, ele oferece, de um modo geral, riquíssimo repertório de expressões que garantem a tensão sobre a qual se dá todo o conflito. A movimentação e sobretudo o jeito como os quadros foram articulados nessa montagem – que se dá sem intervalos – revelam criatividade, mas mais do que isso profundidade no trato. Tudo isso nutre convívio nobilíssimo entre o célebre autor, o palco e o público, feito que precisa ser valorizado.

Vale a pena ver ou rever!

Bratz Elian
enfim! é o que tem pra hoje ...

17 comentários:

  1. Gostava muito de assistir a esta peça! Parece bem profunda!
    Para já, só tenho nos planos assistir a um concerto de ano novo, com música do século XVIII e XIX, quando chegar o Ano Novo. Não tem nenhum espectáculo assim bom nos próximos tempos. :P

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    1. Que maravilha ... ano q vem teremos um ano de música barroca por aqui em programação da filarmônica aqui da cidade. Ansioso ...

      Qto à peça é show. Enquanto não passa aí procure assistir o filme com Elizabeth Taylor e Paul Newman ... um clássico imperdível ...

      Beijão

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  2. Amigo querido Paulo, assisti ao filme já faz tempo, que bom que me deste ideia de o rever, pois é, o tempo passa, mas muitas coisas parecem-nos atuais, a psique é sempre a mesma.
    Imagino como deve ser mesmo show a peça teatral, clássicos assim são mesmo de serem apreciados por pessoas que valorizam a cultura, eu amo teatro, ler livros clássicos, filmes assim, (bem do meu tempo), quando conto aos meus netos eles admiram e dizem que "bons tempos já se passaram", tais como os Anos Dourados!
    Abraços apertados querido amigo!

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    1. Sim Ivone fantástica a peça ... aproveitei e já revi o filme. Um clássico.

      Beijo grande querida

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  3. Nunca vi o filme mas só pela essa imagem, que dupla mais sexy!

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    1. Dois ícones de Hollywood nos anos 50 e 60. O filme é um clássico e a peça um primor.

      Beijão

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  4. Olá Paulo
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  5. Olá,querido Bratz....excelente dica cultural ...grande Barbara Paz... como o próprio título "gata em teto de zinco quente"significa, temos que ter habilidade em se manter estável em situações de conflito, pois são nestes momentos que as intimidades são expostas e a verdade é atirada ...cabe à cada um pensar se tudo o que está perto de nós é verdadeiro ou meras condicionantes sociais ...belo finde, belos dias,abraços!

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    1. Vc sempre perspicaz e inteligente Felisberto ... foi na mosca ... Beijo grande querido amigo ...

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  6. Ainda não vi o filme e depois de ler sua matéria farei isso o mais rápido possível!
    Abraços amigo.

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    1. Obrigado Maurinho! Prazer em tê-lo aqui ... Imperdível, veja mesmo. Na Net tem para Download em ótima cópia ...

      http://furiadoalemaofilmes.blogspot.com.br/2013/05/gata-em-teto-de-zinco-quente-legendado.html

      Beijão

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    2. Opa! Amigo Paulo.
      Obrigado pela dica.Irei baixar o filme.
      Gosto muito das matérias do seu blog.São ótimas!Continue assim.
      Ah! Hoje usando meu outro perfil,não estranhe! rsrs Tenho dois; Xaverico e Maurinho.
      Beijos,meu querido.

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    3. Obrigado querido, já havia percebido e linkei os dois ...

      Beijão

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  7. Para quem estiver interessado encontrei um link para download do filme. Ótima cópia ...

    http://furiadoalemaofilmes.blogspot.com.br/2013/05/gata-em-teto-de-zinco-quente-legendado.html

    Beijão a todos

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  8. Bom, pode ser que tragam a peça a Portugal. Não seria a primeira vez que um grupo de actores brasileiros viria a Portugal, ficando em cartaz por uns meses. :)

    um abraço.

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    1. Tomara que sim. Vais gostar se assistires. Quanto à versão do cinema deixei o link para download logo aí em cima.

      Beijão

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então! obrigado pela visita e apareça mais, sempre teremos emoções para partilhar.

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